Por Karine Bighelini
O iatista Lars Grael, o modelo Ranimiro Lotufo, o músico Ray Charles, o jogador Ronaldo “o fenômeno”, e tantos outros exemplos, relacionam situações diferentes de vida; mas, entretanto, unificam uma capacidade imprescindível para aqueles que, acima de tudo, buscam, na mudança, um processo de desenvolvimento e renovação.
Sabiamente, Carlos Drumond de Andrade, escreveu: “A dor é inevitável. O sofrimento, opcional”. Pois, sua lucidez poética já reverenciava uma das maiores capacidades humanas, atualmente muito discutida e valorizada, tanto na esfera pessoal quanto na corporativa: a Resiliência. Este termo provém das Ciências Exatas, especificamente, da Física; onde se define que Resiliência é a capacidade que um elemento tem em retornar ao seu estado inicial, após sofrer uma influência externa. Por mais que ele seja pressionado, o mesmo retorna ao seu estado original sem deformação.
Saímos da Ciência Lógica e entramos na humana definição de Resiliência. Dentro da Neuropsiquiatria, estudos têm demonstrado que nosso cérebro tem a capacidade de se moldar diante dos acontecimentos vivenciados em nosso dia-a-dia, sendo que o ambiente em que estamos inseridos tem grande papel transformador. Nesse sentido, nossa capacidade de renovação é completa. E não podia ser diferente com nossos pensamentos, atitudes e formas de assimilação para determinados acontecimentos. Na verdade, a maior certeza que temos é que o ser humano é único e diferente. Logo, há diferenças comportamentais em cada indivíduo. Certas pessoas tornam-se resignadas e acabam aceitando, passivamente, os dissabores da vida. Essa resignação compromete a ação de lutar contra o que ocorre, e a renúncia gera a acomodação frente a cada situação diferente e nova. Costuma-se dizer que tais pessoas sofrem da "Síndrome da Gabriela": "eu nasci assim, eu cresci assim, sempre fui assim. Gabriela... Sempre Gabriela...". Outras são, totalmente, reativas. O ambiente é que comanda sua satisfação pela vida. Suas reações são reclamar e praguejar, sendo que nem ao menos tomam alguma atitude efetiva para a mudança. A revolta é uma das principais características de comportamento. Mas, há aquelas que além de confrontarem as situações, enfrentam as tensões com desenvoltura, fazendo de cada experiência um aprendizado positivo. Ao invés de focarem no problema, focam na solução. Ou seja, desenvolveram ao longo da vida, um comportamento resiliente.
Não é por casualidade que a palavra "desenvolveram" foi adicionada na frase acima. Todos nós podemos ser resilientes. A Resiliência não é um traço de caráter hereditário que possuímos ou deixamos de possuir. Trata-se de uma conquista pessoal. Não é à toa que a superação e o crescimento humano são potencializados em momentos de dificuldade! O ser humano precisa enfrentar desafios para testar seus próprios limites. Quantos de nós já não vivenciamos situações de total dificuldade e quando pensávamos que não haveria mais saída, tempo ou solução, acabamos reabastecendo-nos de mais energia ainda? Para responder tal questionamento, destaco duas variáveis fundamentais para o fortalecimento da Resiliência: disciplina e autoconfiança. A primeira vem através do tempo. Esta nos ensina que nosso processo evolutivo é construído diariamente; pois, o problema não está em nossa realidade, mas na forma como a interpretamos. Sabemos que não somos senhores do tempo, nem podemos evitar todas as situações desagradáveis; mas, a maneira como reagimos a elas é que definirá o nosso sucesso. Quanto à autoconfiança, essa é a maior característica do comportamento resiliente. A superação só acontece porque, antes de tudo, acreditamos em nosso potencial regenerativo, em nossa capacidade de crer e agir em prol do positivo.
Outra análise que pode ser feita, é que a baixa Resiliência tem legitimado a não permanência de muitos profissionais no mercado corporativo, pois nunca, em momento algum, fomos tão cobrados pela nossa capacidade de flexibilização diante das dificuldades. O indivíduo que não consegue gerenciar e reverter uma situação adversa, precisa mudar o foco, ajustar as velas, "resignificar" o seu modo de vida, para que tais obstáculos e acontecimentos diários sirvam como promoção de seu desenvolvimento pessoal e profissional.
A música ‘Volta por Cima’, de Paulo Vanzolini, tem muito a nos ensinar sobre Resiliência. O seu refrão diz: "...Reconhece a queda e não desanima. Levanta, sacode a poeira e dá a volta por cima". E esse foi o comportamento de um dos nossos maiores atletas brasileiros... Em setembro de 1998, o bicampeão em iatismo, Lars Schmidt Grael, teve sua perna direita amputada, devido a um acidente que interrompeu sua vitoriosa carreira esportista. Ao ser entrevistado e questionado sobre qual teria sido a lição aprendida desse episódio, Lars Grael concluiu: "O erro das pessoas, em geral, é se voltar para trás. Comparar o presente com o que tinham antes. Se eu fosse comparar minha vida anterior com a vida que levo hoje, com certeza teria entrado em depressão. Mas não adianta ficar olhando para trás. Temos que lidar com o 'aqui e agora'. Poderia ter sido pior, e tenho a obrigação de me sentir no lucro".