Por Karine Bighelini, em 23/05/14
Valentina estava além da chamada “média feminina”. Era o
sonho de toda mulher: linda, inteligente e despretensiosamente envolvente. Com
uma única diferença: ela não sabia disso...
Toda manhã, refletia sobre sua vida: acertos, percalços,
dúvidas, desilusões. Conseguia encontrar nela (em sua vida), uma lista
infindável de acontecimentos – dizia ela – “fora do seu controle”. Em cada
retrocesso mental, perdia-se nos detalhes menos importantes, esquecendo-se que
a palavra “controle” somente é conjugada de forma coerente no dicionário.
Vagando, procurando, rememorando o passado, a ela apresentava-se
desconhecido o presente temporal.
Como diria um sábio ditado: “Deus dá dentes a quem não come nozes!”
E muitas gostariam de ter a dentição de Valentina... Somente
os dentes... Sem a fala, sem as preocupações e inquietudes.
Mulher, realmente, é um bicho esquisito. Fala demais,
reclama sobremaneira, muitas vezes, não tendo a mínima ideia de tamanha inquietação.
Já o homem, objetivamente é menos complexo, menos racional, minimizando o que em
nós prevalece em demasia.
Ao que tudo indica, Valentina fora vitimada pela síndrome do
casamento fracassado. Depois de 15 anos ao lado de seu único marido e primeiro namorado,
ou seja, monoganicamente ingênua na arte de flertar, mal sabia para onde e como
olhar o gênero masculino.
Um dia, ouvindo uma conhecida na arte da sedução, ganhara um
conselho: “Ao achares o escolhido, olhe-o
nos olhos firmemente, conte até 03 segundos e somente depois desvie o olhar. É
batata”. Pois bem, naquela mesma semana, em uma festa pela noite de Porto
Alegre, achara o escolhido. De sua mente, a instrução recebida teimava em não
sair da teoria à prática. Pensava ela: “são
só 03 segundos. Nunca imaginei que 03 segundos representassem uma eternidade
para mim!”
Naquela noite, Valentina aprendera que a arte do amor exige
muito mais do que instruções... Faltava-lhe o jeito, a dose, o bê-a-bá de uma
conquista entre macho e fêmea. Pois bem, se isso era o problema, resolvido
estava! A partir daquele momento, percebera que em cada lugar onde adentrara,
um detalhe antes chegava e se impunha: o seu olhar. Os delicados e difíceis 03
segundos tornaram-se 04, 05, 06... E então, já não eram preciso noites somente,
os dias com suas 24 horas ganharam atenção especial para a sua arte.
O mundo masculino rendia-se, agora, ao seu charme, beleza e
encanto. Percebia que as qualidades antes não enxergadas, aliadas a toda
prática desenvolvida, rendiam-lhe resultados ágeis e significativos. E não houve mais noites nem dias iguais em sua
vida...
Ouso dizer que felicidade é algo que não se ganha na
loteria, tampouco encontra-se perdida na carteira! Conquista-se, preenche-se,
revela-se... E não venha me dizer que a vida do vizinho(a) é mais divertida ou
poética. O verbo aqui é movimento, e não, estagnação!
E eu ainda continuo ouvindo aquela conversa de elevador: “Tá faltando homem no mercado... Bonito,
então, nem se fala: ou é casado ou já tem um namoradO! Será que uma agência de
encontros pode resolver o Meu problema???”
Acho que o feminismo descontruiu a essência dos
relacionamentos e nem mesmo os homens conseguem compreender o que nos move...
Que voltem a poesia, a gentileza de um abrir de portas,
flores e a simplicidade dos recadinhos ao lado da cama! Que ressurjam o brilho
no olhar, o abraço matinal e o aconchego de um casal! Mulher não precisa ser
sempre fatal! Às vezes o que sobra é a fatalidade de uma vida programada, razão
exacerbada e um bom dia, oi e até logo...
Entenda que uma mulher Valentina é, antes de tudo, sujeito,
verbo e predicado! E nada mais...